segunda-feira, 14 de abril de 2014

De abril a março, mais de 20 anos se passaram.

Num dia desses qualquer de abril a porta do poço me foi apresentada, bonita, espaçosa, com caminhos infinitos a serem percorridos, e tinha asas lá dentro. Longos vôos, fiz. Até um momento em que a porta se fechou e o que restou, foi o poço, apenas o poço ficou, era, fui, me tornei.
Anos depois da saída, entre um e outro se vai longa história, e mais história ainda dentro dele mas não vem ao caso, nesse caso.
E sim o depois.
E o depois, são muitos anos livre do peso das correntes que a asa me pregou.
Num dia, não mais qualquer de março, comemoro conquista, não só minha, mas de irmãos e comento com uma amiga, que em profundidades também esteve, apenas em portas e poços diferentes, mas sabe o sentido da dor da pele que aperta, quando as correntes lhe fingem ser asas. E comento do tempo, que já se foi, do quanto se passou, ela me responde, "bom sentir o prazer da vitória, não é?" Eu paraliso. Essa frase me pega pelo coração, pela razão, pela vida.
Penso que vitória é um bom termo, é justa a conquista, não deixa de ser vitória as novas asas, novos vôos. Agora em planície, sem portas e poços. Sim é vitória.

Mas, prazer por isso, não não sinto.
E retorno a alguns anos e lembro que dentro de meu peito havia um sentimento chamado apego e que há muito tranquei e não me lembro mais como ele é. Há muito me desliguei de sentir prazer pelo que é comum, pelo que é certo. O poço me mostrava o prazer do obscuro, do avesso, do tropeço.
A frase me pega e me joga na realidade.
Não bastou voltar a sentir paixão por alguém há pouco tempo atrás, tem ainda sentimentos que precisam ser revisitados. Tenho que tirar-lhe toda a roupa, essa roupa impregnada de frieza, jogá-las fora, queimar!
Esfoliar a pele, muita chuva para lavar e há de ser salgada. Abrir os olhos, vestir novamente, encorajar para que possam sair às ruas, um tapa no ombro, um beliscão de acorda! Um abraço de bem-vindo à vida! Sintam, vocês precisam sentir novamente.
Preciso revisitar as gavetas de apego. Preciso lembrar do caminho...
Onde mesmo, deixei a chave?

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

É o seguinte...

Passo por um momento, onde minha alma encontrou uma cama aconchegante e está descansando, existe um grande silêncio. Encontrei um lugar dentro de mim que há tempos procurava. Um cantinho onde o silêncio é merecido, o descanso dos que sofreram.
Apenas calmaria. Conforto.
E não permito que nada, ninguém absolutamente ninguém tire essa paz que encontro agora. Não serão desejos, quereres sem fundamentos, que irão me tirar do mais importante que encontrei. Eu mesma.
Sem a menor vontade de repetir erros já cometidos, de andar por caminhos já conhecidos.
Há dias venho sentindo esse silêncio, essa calma. E estava com medo (sempre ele) de aprofundar, de me perguntar se era momentânea essa quietação, ou se era apenas um instante. Resolvi enfrentar, chamei para o embate todos os pontos de interrogação pendentes que sempre me acompanham. Todos os passos moldados e ainda não dados. Fui fazendo uma lista, como as de compras. Tal sentimento... o luto, me entendi com ele, finalmente foi aceito. O vazio, minha fé se concretizou.  E assim conversei com um a um. E ao final que alivio! Não, não é temporário, me refaço mais uma vez, que delícia poder mudar, ter novos olhares, novas opiniões.
Não quero pessoas negativas, lamuriosas, sem fé, acima de tudo sem sensibilidade ao meu lado. Não, não quero e se não quero, basta.
Respostas foi o que encontrei, abençoadas respostas! Vieram com a ajuda de outros. Vivos, mortos, que convivi, nunca vi, uns que nem sei se existem. O que de real houve foi que, me permite ouvir, assimilar e aceitar. E não serei eles, não sou cópia. Mas me criar através do que ouvi. Estão dentro de mim. São minhas agora. Agora são certezas.
Minha alma descansa, depois de um longo banho morno, de muita espuma, saboreio água. É o que me cabe. Deito em lençol de seda e durmo. E ao acordar me dou ao direito de rezar, de pôr os pés no chão e seguir. Vou me ajudar e aos que de fato querem ajuda. 

Os passos saíram do molde, estão sendo dados.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Debaixo das árvores que choram

Eu ouvi tantas historias, eu revivi a parte mais importante da minha própria, eu dei a luz novamente à minha filha.
Conheci personagens fascinantes, mães sofridas, morando em casa alheia há dias, meses, com suas crias em estado de alerta, preparadas para um novo parto ou a partida, um gosto de incerto constante no ar.

Ouvi um incesto entre tio e sobrinha, como ela ria, como contava de alma alegre a paixão pecadora, proibida.

A louca que ali vive. Uma vida toda, que dorme todas as noites sobre os bancos de concreto frio. Com seus cobertores, dados. Fala com muitas pessoas que somente ela vê, às vezes sorri, às vezes grita e passa assim seus dias, brigando com o invisível. Vestindo-se de homem para não agredirem sua feminilidade.

Os homens de preto, que tem por profissão e obrigação não ver o lado humano, a dor de quem sofre, apenas seguem o caminho da burocracia, o que importa são os crachás dependurados ao peito, não importando se por trás dele bate um coração ou há um vazio.

Nos bancos frios derramei muitas lágrimas, olhando o trabalho das incansáveis formigas, que todos os dias religiosamente subiam e desciam, com pétalas de todas as cores, fazendo uma trilha colorida de trabalho à caminho de casa. Sem se importar com a fumaça saindo de bocas angustiadas pela apreensão.

Enquanto dentro de mim, minha filha sentia dor. Dor que eu sentia, no rosto que ganhou novas linhas, nos fios brancos que apareceram. Apreensão e dor.

Dentro de mim o parto se fazia, tempo incerto do nascimento.

A alegre mulher que parece ter sido colocada de propósito a espalhar sorrisos e arrancar sorrisos de rostos tristes e cansados. Fotografei-a quero a lembrança desse sorriso sempre, em momentos de tristeza.

O paciente que no momento da alta fez a enfermeira cumprir a promessa feita dias antes e a convidou para dançar. Num quarto com mais pessoas acamadas, os dois ao som de uma musica bem baixinha, provavelmente vinda de um celular, dançaram um samba rock, momento de alegria, no quarto. Fui testemunha e pude sorrir com a alegria alheia.

De um anjo que estava no mesmo quarto que minha filha. E, num dos momentos de maior angústia, ela me fez respirar, acalmar. Respira, apenas respira e entrega. Obrigada Vera de verdade.

Enquanto minha filha se refazia com a ajuda dos homens e todas as preces a Deus, meus sentimentos vieram à tona, lembranças de dores, momentos vividos no passado em mim se fizeram presente, hora de resgatar a mim mesma acima de tudo. Nesse momento o destino se repete, para que, dessa vez o perceba, sinta e cresça. Sim entendi.

As árvores continuam a chorar, sei que muitas mães nesse momento estão lá, na expectativa que me atravessou por dias. Destinos a cumprir. Rezo por elas.

Hora de dar a luz novamente. E minha vida se refez minha filha outra vez. Dentro de minhas entranhas já em idade adolescente veio à luz, minha filha está bem... Dias de aprendizado.
  
Aqui do meu lado no aconchego da minha casa, na minha cama, beijo minha cria. Como é linda minha filha!!

domingo, 1 de setembro de 2013

O pouso não é pacato

Quando caiu sobre o mundo a ferro puxado,  olhou assustado, doía-lhe as têmporas. Assustou-se com o olhar esbugalhado de tantas caras sorridentes. Ele ali todo pelado, resultado de ato inconsequente. Os gigantes a mostrar-lhes os dentes, coisa que nem tinha, sabia-se banguelo nessa vida.
Sentia-se um cadáver acordado, estava antes em mundo mais confortável.
Mas já que aqui havia sido jogado. Iria esperar nascerem os dentes (o que achava de extrema importância), para morder a realidade desses que tinham o seu cordão, cortado.

De tantas que sou

Eu já fui da razão a loucura com intervalos de goles de café amargo, para combinar com a poesia que o momento pedia. Engraçado como a vida parecia eterna nesses momentos. Nesse desajuste do tempo. Ou haveria de ser meu? O desajuste? Sempre culpa-se algo.
Culpo a estrada. As placas não estavam certas, ou será que não li direito... O fato é que segui aquele caminho como se meu fosse por direito adquirido, com carimbo de viagem.
Regras existem para serem quebradas! Quebrei-as, dei voltas e voltas e descobri que
Eram só isso, voltas!

Estou na loucura novamente, mas dessa vez, da vida. 
Um café, por favor, mas dessa vez com açúcar.